terça-feira, 12 de novembro de 2013

Clarice Lispector

Os Desastres de Sofia

Os Desastres de Sofia é um conto escrito por Clarice Lispector que retrata uma situação cotidiana dentro de uma sala de aula. De um lado temos um professor recatado e frustrado e do outro, uma aluna inquieta e atrevida que sente prazer em atormentar seu educador.  A relação de amor e ódio entre o professor e a aluna é o que torna o enredo tão particular. Apesar de toda a implicância, a menina sente uma atração tão grande por seu orientador que esse sentimento várias vezes é associado ao amor.
O nome da aluna nunca é anunciado, mas, devido ao título do conto, fica subentendido que ela se chama Sofia.  As obras de Clarice se baseiam em fatos do dia-a-dia que trazem aos personagens um sentimento de autodescoberta. Como esse é o foco da autora, raramente iremos encontrar uma obra da mesma que foque em localidades, ou descreva situações fantasiosas.
A atração que se inicia como uma vontade de desacreditar o professor publicamente, que se mistura com um sentimento de pena e vontade de chamar atenção, logo se torna algo essencial para Sofia, como se ela necessitasse da atenção, mesmo que repleta de ódio, do seu educador. Essa vontade de atormentar o professor advém de uma descoberta de Sofia. Ela descreve essa descoberta como algo que a ofendeu, que seria a infelicidade do professor em lecionar para sua turma.
Apesar de demonstrar um total domínio da situação, Sofia ainda sim é angustiada, afinal, tudo que ela representa para o professor não passa de uma encenação. A forma como age não a agrada, mas, para a mesma, é a única existente nessa situação. Sendo assim, Sofia age como em uma apresentação teatral, onde o palco é o ambiente escolar, e o ato é composto apenas pela representação dos dois.
A infelicidade de ambos é algo que permeia a atmosfera do conto até o final, quando ocorre o tão esperando momento de epifania, comum nos contos de Clarice. O professor resolve passar uma composição para a turma, na qual cada um escreveria com suas palavras a história que o educador contaria. Quem fosse terminando seria liberado para o tão esperado intervalo. A menina resolve que seria a primeira a terminar a composição, não só por causa de sua enorme vontade de se ver livre da aula, mas também para desafiar aquele professor, que passara um trabalho digno de desprezo.
Devido a um esquecimento, Sofia retorna a sala para buscar algo que deseja mostrar para os colegas, e então ocorre algo que não estava planejado dentro de sua espécie de apresentação teatral. O professor encontra-se só na sala, e a menina se vê totalmente sem subterfúgios diante dele. Ao tentar fugir da situação embaraçosa, a criança escuta seu nome e se vê obrigada a se aproximar do homem que, apesar de amar, teme.
Esperando a repreensão, Sofia se aproxima assustada, se preparando para ouvir uma bronca, uma resposta do professor a todo o tempo de tormenta que ela o proporcionou. Mas, diferentemente de tudo que o a criança esperava, o professor questiona sua composição. Surpresa, a mente caótica e intensa da menina passa a tentar compreender o momento inesperado que está se passando.
E como se isso não bastasse, o professor elogia o trabalho executado pela menina, o que a deixa totalmente sem chão. É como se toda a representação anterior não tivesse valido nada, como se apenas aquela composição fosse o suficiente para o professor conhece-la. Conhecer seu verdadeiro eu. Naquele momento, não apenas a imagem de Sofia é alterada, mas a do professor também. A ideia de orientador frustrado, passada durante todo o conto, desaparece nesse momento, para dar lugar a um professor surpreso, sem jeito e até simpático.
A angústia de Sofia torna-se desespero diante do professor sereno que acabou de conhecer. Ela vê parte de seu verdadeiro eu sendo exposto e vê o verdadeiro eu do professor diante de si, e isso ocorre de forma tão inesperada, que ela sente todo peso de sua verdadeira essência sobre as costas. Ainda mais pesada é a mudança que sua essência causa no professor.

O peso que vem junto com a aceitação da verdadeira essência, significa o amadurecimento do ser, a epifania. Sofia cativou o professor com sua verdadeira personalidade, e, parafraseando Antoine de Saint Exupéry, ‘’tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas’’. O peso da responsabilidade era demais para a menina. Era um peso maior do que ela poderia aguentar. 


''Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.'' Luís Fernando Veríssimo


sábado, 14 de setembro de 2013

Scott Westerfeld

Feios


   Olá, pessoas! Hoje a resenha vai ser sobre o livro Feios, que é o primeiro volume da série de mesmo nome. A história se passa em uma cidade futurista que segrega sua sociedade em duas partes. Uma dessas partes é habitada apenas pelos ''Feios'', e a outra, pelos ''Perfeitos''. Nenhuma das partes pode ter qualquer tipo de contato com a outra, e, obviamente, o mundo dos perfeitos é extremamente mais sedutor que o dos feios. 
    Para o alívio daqueles que habitam a Vila Feia, eles um dia também se tornarão perfeitos, tudo que precisam fazer é esperar até completarem 16 anos. Quando essa idade chega, os feios passam por uma cirurgia promovida pelo governo, onde eles são completamente modificados. Todas as imperfeições somem, os olhos ficam maiores, a boca fica mais carnuda, a pele é trocada, e até mesmo os ossos são substituídos por uma liga artificial resistente e leve.
  Uma coisa bastante interessante dessa sociedade é que ela é posterior a nossa, então, somos citados várias vezes na obra. Claro que não possuímos nenhuma das denominações empregadas na sociedade futurista, como ''Feios'' ou ''Perfeitos'', temos um denominação própria, e somos citados como um belo exemplo do que não ser. Enferrujados é como nos chamam, criaturas mesquinhas, fúteis e destrutivas. Todo o Estado novo procura ser totalmente contrário ao antigo. A cidade é auto-sustentável e a aparência deixa de ser fator determinante entre as pessoas, já que todos se tornarão perfeitos.
    Tudo parece ótimo, ainda mais para a personagem principal do livro, Tally, que está prestes a completar seus 16 anos e finalmente tornar-se uma perfeita. O problema é que, nesse meio tempo, ela conhece Shay, e as duas tornam-se grandes amigas, e, ao contrário de Tally, Shay não quer se tornar uma perfeita. Ela quer permanecer feia e fugir da cidade, já que todos são obrigados a passar pela cirurgia. Nesse ponto, a protagonista fica dividida entre fugir com Shay, ou tornar-se uma perfeita assim como a maioria. Shay quer encontrar com outros feios que também fugiram, os Enfumaçados. Esse grupo é perseguido desde os primórdios pelo governo, ou melhor, pelos ''Especiais''.
    Os especiais são perfeitos melhorados, eles possuem um preparo físico muito melhor e todos os sentidos mais apurados. Tally acaba sendo procurada pelos especiais como uma possível cúmplice de Shay, e eles lhe fazem uma proposta: ou Tally foge com a amiga e entrega a localização dos Enfumaçados, ou nunca se tornará uma perfeita. Nesse ponto, a protagonista não vê outra solução, acaba fugindo com Shay, rumo ao vale dos Enfumaçados. Até esse momento, ela está decidida a entregar todos enfumaçados, em parte porque quer tornar-se uma perfeita, mas também porque acha que todos aqueles feios fugitivos são completamente malucos e precisam da ajuda do governo.
    Mas como nem tudo são flores, Tally se encanta pelos enfumaçados, percebe que sua cidade auto-sustentável não é tão boa quanto parece, e acaba descobrindo que a cirurgia para se tornar perfeito não muda apenas a aparência. Ela se apega aos moradores daquele local, e resolve ficar com eles, mas os especiais já descobriram a localização do vale e pretendem destruir tudo que foi construído por aqueles feios rebeldes. 
   O principal tema do livro é a aparência, os padrões de beleza impostos pela sociedade. Em uma primeira lida, você pode até pensar que o autor propõe uma solução para os problemas desencadeados por um padrão que não pode ser alcançado naturalmente. Mas quando notamos a diferença que existe entre os feios e os perfeitos, percebemos que isso só agrava o problema. Essa diferença vai desde o tratamento recebido até os diretos e deveres desses dois grupos. A vida dos perfeitos é uma vida sem preocupações, regada de luxúria, diversão e festas, enquanto os feios apenas sonham, dia após dia, com a perfeição do outro lado da cidade.
   Quando o autor descreve os feios, nota-se que a definição de ''feio'' e ''bonito'' é completamente inútil, essa é uma questão que depende de fatores sociais e culturais. Os feios da obra são pessoas como eu e você, pessoas com diferenças: umas possuem olhos maiores, narizes menores, bocas mais largas, cores diferentes, cabelos enrolados, e só são considerados feios porque não possuem o padrão que o governo criou, o padrão ''perfeito''.
   Notamos apenas as crises existenciais dos feios, porque os perfeitos não possuem profundidade emocional nenhuma, estão tão acostumados a viver uma vida em que todos os desejos são realizados, que tornam-se marionetes do governo, vivem de acordo com que é imposto e nem percebem. Eles quase chegam a ser burros, tamanha a ignorância que os cerca. A vida que levam é fútil, apenas preocupados com a próxima festa que irão participar, querendo trocar de aparência para se tornarem ainda mais perfeitos e serem cada vez mais queridos pelos outros devido à beleza.
     Seria cômico se não fosse trágico, ou melhor: seria cômico se não fosse realidade. Vivemos cercados por pessoas como os perfeitos e os feios. Pessoas que vivem de aparência e pessoas que se sonham em viver dela também. Os que se recusam a ser dessa forma são vistos como aberrações, sofrem preconceito tanto dos perfeitos, quanto dos feios. A diferença assusta, por isso é repudiada por aqueles que vivem em seus mundos cheios de medidas e padrões, cheio de regras a serem seguidas. Até que ponto você iria para deixar de ser você mesmo e tornar-se o que os outros desejam que você seja?

''O estilo é o adorno da alma: se for demasiado penteado, maquilhado, artificial, em suma, só provará que a alma carece de sinceridade e tem em si algo que soa a falso.'' Sêneca

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Cressida Cowell

Como Treinar Seu Dragão

    Gente, vou tentar ao máximo não me empolgar escrevendo sobre essa série, juro, mas vai ser complicado. Como Treinar Seu Dragão é uma série de livros infantis, que tem como protagonista Soluço Spantosicus Strondus III. A autora Cressida Cowell escreve como se fosse o protagonista, e os livros fossem seus diários. Soluço faz parte de uma tribo viking composta por brutamontes barbudos e extramente fortes, infelizmente, ele não possui nenhuma dessas características. 
    Soluço só não é o pior aluno do seu treinamento viking, porque existe Perna-de-Peixe que, além de ser vesgo e manco, é o melhor amigo de Soluço. A situação já seria ruim sem a intromissão de Melequento, que faz questão de humilhar Soluço em todas as situações possíveis. 
     Por aí, você já pode perceber que o protagonista não é o herói que estamos acostumados a ver, não que ele não se esforce para isso, porque com certeza ele o faz, afinal, Soluço precisa corresponder as expectativas do pai, que é o LÍDER dessa tribo!
     O personagem nos é apresentado dessa forma no primeiro livro, e desde o inicio, já sentimos uma certa pena dele por não ser aquilo que sua tribo espera que ele seja, afinal, o herdeiro de Stoico, O Imenso, deveria ter, pelo menos, algumas características do pai.
    Mas, como tudo que é ruim, pode piorar, logo no primeiro livro, os guerreiros iniciantes precisam capturar um dragão, que será educado pelos mesmos e se tornará o companheiro de cada aluno no programa de treinamento de Bocão, o responsável por transformar os jovens em viking dignos da tribo dos Hooligans Cabeludos. Durante a captura do dragão, Soluço e Perna-de-Peixe se atrapalham e acabam pegando os dragões mais comuns possíveis, e o de Soluço é, particularmente, muito pequeno. Dessa forma somos apresentados a Banguela, o dragão que, aparentemente, não possui nenhum dente, e assim como seu dono é subestimado por todos. 
    Soluço e Banguela nos provam em cada aventura, em cada livro, que a aparência não significa nada quando se tem coragem e um coração enorme. O livro é cheio de ilustrações, mapas, dragões, animais marinhos gigantes e vilões bizarros, além disso, são citadas várias mitologias nórdicas, e por isso, muitas vezes Odin, Thor e Loki são citados no decorrer da história.
     Apesar de ser um livro infantil, Soluço tem muito a ensinar a todos nós, afinal, quem nunca desmereceu alguém só por causa da forma como ele se parecia/vestia/agia? Soluço mostra que todos nós podemos ser heróis, e que devemos acreditar mais em nós mesmos e nos outros também. Todos temos qualidades, assim como também temos defeitos, e que tudo que precisamos é de uma oportunidade para mostrá-las ao mundo. Mesmo com todas as adversidades, nunca devemos deixar de ser aquilo que somos, porque isso é o que nos faz heroicos.

Mapa do Arquipélago 


''Mas tamanho não é tudo, como sempre digo ao melequento. Mesmos pequenos, sempre devemos lutar por aquilo que consideramos certo. E eu não me refiro à luta com punho ou a espada. Este sempre foi o nosso problema, dos vikings. Eu me refiro ao poder do cérebro, dos pensamentos e dos sonhos.'' Soluço Spantosicus Strondus III - Como Falar Dragonês.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Domingos Pellegrini

A Árvore Que Dava Dinheiro

     Ei, pessoal, desculpa a demora, as aulas voltaram e eu ainda estou organizando meu tempo, mas resolvi que estava na hora de escrever uma resenha.  A história desse livro é bastante interessante, e se passa em uma cidadezinha chamada Felicidade.  As propriedades dessa cidade pertencem, quase todas, a um velho sovina. Apesar de todas as suas riquezas, esse senhor vive da forma mais medíocre possível e não possui muitas relações interpessoais. Devido a esses fatores, quando o senhor falece, ninguém sente sua falta e, na realidade, muitos ficam até felizes, pois, como o mesmo não tinha herdeiros, as propriedades passam a pertencer aos moradores.
      Além das propriedades, os habitantes de Felicidade, herdam algumas sementes, também deixadas pelo velho.  A princípio, os moradores não dão muita importância, mas resolvem plantá-las para homenagear o senhor.  Com o passar do tempo, a árvore cresce e, para surpresa de todos, passa a dar dinheiro.  Como era de se esperar, esse acontecido gera uma euforia geral, e muitos deixam de trabalhar. A cidade se acomoda e passa a viver da árvore que nunca deixa de corresponder às expectativas dos moradores.
      Felicidade acaba atraindo a atenção dos turistas, e o local passa a ser mais conhecido e valorizado. Os habitantes acostumam-se cada vez mais com a vida de não fazer absolutamente nada, e a usar sempre o dinheiro da árvore. Os preços sobem absurdamente e a vida vai se tornando mais turbulenta a cada dia. 
      Mas, o que vem fácil, vai fácil, e logo eles descobrem que aquele dinheiro só existe dentro da própria cidade, pois quando se atravessa a ponte que determina o fim de Felicidade, o dinheiro vira pó. Nesse momento o desespero é geral, e a cidade vira um caos, e agora, mais do que nunca, aquelas pessoas precisam dar um jeito de reestabelecer os seus respectivos negócios e tentar amenizar os desastres que se formaram e que estão se formando.
     Toda literatura, quando bem feita, gera reflexões, e essa, em específico, me fez pensar bastante.  É incrível e, ao mesmo tempo, perturbador, pensar em como a cidade se corrompe facilmente com a presença do dinheiro fácil, em como os valores são perdidos. A ganância e a luxúria são características que só vão se agravando no decorrer da obra.  Quanto mais se tem, mais se quer ter.
      Outra coisa que me fez pensar bastante, foi o valor do dinheiro de forma física e psicológica. Afinal, quanto vale aquele pedaço de papel que você tanto valoriza (nos dois sentidos)? Mesmo no sistema monetário, quando se pensa bastante sobre o assunto, se chega a conclusão de que aquilo não possui um valor real, não por si só. Eu gostaria de explicar de melhor forma essa linha de pensamento, mas como me faltam palavras e conceitos, resolvi passar adiante esse vídeo do Leandro Zayd. O vídeo é um  pouco demorado, mas vale a pena assistir:


                                           


     Enfim, mas uma vez peço desculpa pela demora, e agradeço sua paciência de ler mais essa resenha. Beijão.

''Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é.'' Maquiavel

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Unboxing

Harry Potter e o último livro da série Como Treinar o Seu Dragão :)




Então, gente, resolvi gravar esse vídeo pra mostrar a coleção, perdoem os erros e a voz estranha, eu tinha acabado de acordar. Eu tentei mostrar os livros por dentro também, para vocês verem as ilustrações, porque eu acho o máximo! Acho que ainda vou fazer uma resenha sobre os livros de Harry Potter aqui, e também sobre a coleção de Como Treinar o Seu Dragão. É isso, galera, obrigada pela paciência.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Neil Gaiman

Coraline

    Olá, pessoas! Vou tentar fazer uma resenha da obra do Neil Gaiman e espero, do fundo do meu coração, que dê certo. O meu interesse por esse livro veio da animação que fizeram dele. Achei o filme fantástico, e não poderia ser diferente, ele é todo feito em Stop motion e os personagens são feitos de massinha! O cenário é muito bem elaborado, e realmente traz o clima sombrio da história. Quem gosta das produções de Tim Burton, com certeza irá gostar desse filme. A animação é bem fiel ao livro, então pra quem não é fã de literatura, fica a indicação do filme.
  Coraline possui um comportamento típico de crianças que procuram chamar atenção, é hiperativa e está sempre querendo se diferenciar. Em muitos momentos vemos a falta de paciência de seus pais com ela. O pais de Coraline são bastante comprometidos com seus respectivos trabalhos, e acabam negligenciando a própria filha.
    A história começa quando a família resolve se mudar para um antigo casarão, que se encontra próximo a uma floresta.  A casa é divida em apartamentos, portanto existem outras pessoas a habitando. Os vizinhos de Coraline são bastante excêntricos e ela acaba descobrindo isso de forma bem abrupta. Um dos apartamentos é ocupado por duas senhoras, que já foram grandes acrobatas, vivem das lembranças do passado glorioso e, por isso, não conseguem seguir em frente, essas duas são a primeira representação da vaidade na obra. O outro apartamento é ocupado por um senhor que deseja criar um circo apenas de ratos, e passa os dias dentro de casa procurando meios de treinar os roedores, ele é a segunda representação da vaidade. 
    Devido a falta de atenção em casa, Coraline passa a explorar os arredores do casarão, e após conhecer os vizinhos, passa a vasculhar a floresta. Ao anoitecer, Coraline retorna para o jantar e se depara com a comida nada saborosa que seu pai preparou. Após a refeição, ela se dirige para o quarto, que também não a agrada, e adormece. Na manhã seguinte, a menina percebe, tristemente, que está chovendo e que seu plano de explorar a floresta, não poderá se concretizar. Percebendo a inquietude da filha, o pai de Coraline sugere uma exploração dentro da própria casa, e ela acata a sugestão.
   Após muito tempo anotando tudo que encontra na casa, vistoriando tudo que pode ser vistoriado, Coraline descobre uma porta, e essa porta se encontra fechada. A menina vai até a mãe e pede para que ela abra a porta, mas para sua decepção, a única coisa que encontra é uma parede de tijolos. Essa surpresa, nada agradável, deixa Coraline muito curiosa, e um dia, quando os pais não estão em casa, ela vai até a porta e a abre novamente, mas, dessa vez, há uma passagem atrás da mesma.
   Quando ela atravessa a passagem, se depara com sua própria casa, porém, muito mais agradável visualmente. Nesse local, Coraline também encontra Outra Mãe e Outro Pai, que são muito parecidos com seus verdadeiros pais, exceto pelo fato de terem botões no lugar dos olhos. Tudo nesse local é melhorado, a comida é mais gostosa, o quarto de Coraline é mais bonito, os vizinhos são mais atraentes, e os pais lhe dão mais atenção, a vida é a utopia que ela tanto queria. Toda essa beleza criada pela Outra Mãe é mais uma representação da vaidade, que procura conquistar o amor de Coraline através dessa combinação de qualidades visuais.
    A menina fica encantada com tudo que encontra, porém, logo ela descobre que as coisas não são tão simples quanto parecem. A Outra Mãe logo propõe a estadia permanente de Coraline, e diz que se ela aceitar a proposta, tudo que terá que fazer é costurar botões no lugar dos olhos, a partir desse momento, tudo que a menina deseja é retornar para sua casa real. Mas ela vai perceber que seu envolvimento com o mundo da Outra Mãe já foi o suficiente para desestabilizar sua antiga vida, e ela vai precisar se esforçar ao máximo para a recuperar. 
    No fim das contas, Coraline percebe a importância de sua real família em sua vida, e a prefere, abrindo mão de uma vida em que todos seus desejos seriam realizados pela Outra Mãe. O fim do livro remete à obra do filósofo Matias Aires, Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens, escrito em 1752. Matias dizia que o excesso de amor próprio, é a vaidade, e só o que se opõe a vaidade, é o amor pelo próximo. O amor resultante da vaidade, seria o amor medíocre, e o amor real, conquistado, seria o amor sublime. E é esse amor sublime que Coraline tem pelos pais, que se torna sua arma contra o amor medíocre da Outra Mãe.

                      ''Quando você tem medo e faz mesmo assim, isso é coragem.'' Coraline

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Jostein Gaarde

O Mundo de Sofia

Romance da história da filosofia

   Olá, pessoas! Como vocês devem ter notado, o nome do meu blog é quase um plágio do nome desse livro, porque essa obra modificou bastante a minha visão de mundo e também a minha forma de encarar a filosofia. Apesar do livro utilizar diversos fatos históricos para contar a história da filosofia, não é necessário ter um profundo interesse nesse assunto, pois o autor une esses fatos históricos com a ficção da obra. Essa união gerou um livro incrível, que trás registros da primeira reflexão filosófica até o existencialismo.
   O livro é bastante complexo, então vamos por partes, primeiro, vamos conhecer Sofia:
  • Sofia Amundsen
   Sofia tem 14 anos e está perto de completar seus 15. Seu pai é capitão de um navio petroleiro e não aparece na obra, pois em suas viagens, costuma ficar bastante tempo afastado. Sofia mora com a mãe e com seus diversos animais de estimação, que são, de certa forma, uma maneira de compensar a ausência do pai. Devido à sua capacidade de se virar sozinha na maioria das vezes, já que seu pai não se encontra e sua mãe trabalha, Sofia possui uma maturidade mais desenvolvida do que a das meninas da sua idade.

   Uma coisa muito importante em relação a Sofia é sua idade. Esse se mostra um fator muito importante no decorrer da história. Muitos sabem que os 15 anos significam mudança, e a festa é um rito de passagem. Durante todo o livro, o evento mais esperado é a festa de 15 anos de Sofia, onde se dará o desfecho da história. 
   A história começa quando Sofia passa a receber cartas que fazem parte de um curso de filosofia por correspondência, porém, ela não conhece o remetente dessas cartas. Conforme o curso vai evoluindo, o professor vai se identificando cada vez mais, até que o Sofia finalmente o conhece, seu nome é Alberto Knox.
  • Alberto Knox
   Alberto é um homem de meia-idade, extremamente intelectualizado, que torna-se professor de filosofia de Sofia. Ele tem a capacidade de ensinar o conteúdo com exemplos acessíveis que estimulam as reflexões, não só de Sofia, mas também do leitor. As aulas de Alberto são dinâmicas e quase sempre envolvem exemplos práticos que familiarizam aspectos atuais com a época de cada pensamento estudado.

    Durante o curso, Sofia não recebe apenas cartas de Alberto, mas também cartões postais endereçados à Hilde Møller Knag, uma jovem que compartilha bastantes características com Sofia, e que também está para completar 15 anos de idade. Esses cartões também vão se tornando cada vez mais complexos e Hilde torna-se uma personagem cada vez mais íntima da protagonista
  •  Hilde Møller Knag
    Hilde tem 14 anos e irá completar 15 exatamente no mesmo dia que Sofia, e apesar das diferenças físicas, ambas são bem parecidas psicologicamente. Em vários momentos, aparecem indícios de que uma é o reflexo da outra, como se houvesse uma dependência entre a existência de ambas.

    Assim como Alberto Knox vai se revelando com o tempo, o rementente das cartas endereçadas à Hilde, também. As cartas são escritas pelo pai de Hilde, e seu nome é Albert Knag, e ele conhece Sofia e Alberto melhor do que os dois imaginam.
  • Albert Knag
    Albert é um major de uma unidade das forças de manutenção da paz da ONU no Líbano. O nome extremamente semelhante ao nome do professor de Sofia, Alberto Knox, não é apenas uma coincidência e isso torna-se cada vez mais aparente com o decorrer da história. Outro personagem que se assemelha a Albert é o pai de Sofia, ambos estão fisicamente ausentes nas vidas das filhas.

    Com o decorrer da história, a intromissão de Albert na vida de Sofia e Alberto torna-se cada vez mais frequente, até que essa instromissão torna-se uma espécie de controle de suas atividades. Hilde passa a ser cada vez mais citada e Sofia começa a interessar-se cada vez por ela e por suas semelhanças. Albert muitas vezes é citado como uma espécie de Deus, capaz de controlar a existência de Albert e Sofia, sem nunca aparecer fisicamente.
    Alberto muitas vezes se insere em contextos históricos para explicar o conteúdo para Sofia. E muitas vezes Albert se insere na história de Alberto e Sofia para chegar até Hilde. Essa situação torna-se cada vez mais frequente e a impressão de estar lendo um livro dentro de outro torna-se cada vez mais real. Todas as intromissões de Albert, aulas de Alberto e questionamentos de Sophia, resultam na questão do existencialismo.
    Muitas vezes você se questiona até que ponto aqueles personagens realmente existem, e em alguns momentos, você questiona sua própria existência. O livro tem o intuito de acordar o leitor para sua existência, assim como Alberto e Sofia fizeram, apesar do controle de Albert em sua vida. Existe uma frase de Sartre que sintetiza muito bem a ideia principal do livro: ''Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós''.
     Sua existência, sua essência e seu ser, dependem só de você. Você decide como vai usar sua liberdade e se vai usá-la ao seu favor. Nós somos os únicos seres que possuem a consciência da própria existência, nós a controlamos, fazemos das nossa vida aquilo que queremos. Devemos aprender a lidar com as consequências de nossa existência, e mais ainda com as consequências da nossa liberdade. Ser livre não significa ter o que quiser, viver como quiser, ser livre é viver de escolhas, e escolhas remetem ao fracasso, e é claro, a realizações. Não somos livres de ser livres.

 “Ao tomar uma decisão, percebo com angústia que nada me impede de voltar atrás. Minha liberdade é o único fundamento dos valores.”  Jean-Paul Sartre